IMPLICAÇÕES DA FARMACOTERAPIA ANTI-HIPERGLICÉMICA NA AVALIAÇÃO DA APTIDÃO EM TRABALHADORES COM DIABETES MELLITUS

RESUMO Introdução/Enquadramento A Diabetes mellitus é uma doença crónica, resultante de deficiente secreção e/ou ação periférica da insulina, causando hiperglicemia, com lesão de múltiplos órgãos alvo. A sua incidência mundial tem aumentado nas últimas décadas, estimando-se uma prevalência mundial próxima dos 415 milhões de adultos. Neste contexto, existirá um elevado número de trabalhadores com esta patologia, que serão obrigatoriamente avaliados em exames de aptidão profissional, pelo que é imprescindível que o Médico do Trabalho permaneça atualizado relativamente à clínica e opções farmacológicas disponíveis para deliberação fundamentada quanto à aptidão e eventuais condicionantes, restrições e recomendações a ela associada. Metodologia Trata-se de uma revisão narrativa da evidência disponível na base de dados PubMed, complementada pela legislação portuguesa e orientações de sociedades nacionais e internacionais. Conteúdo/Discussão As complicações da Diabetes podem afetar a capacidade de trabalho e, por este motivo, devem ser alvo de avaliação periódica pelo Médico do Trabalho. Algumas complicações crónicas, como a retinopatia ou a doença neuro-isquémica são relativamente evidentes nas suas manifestações incapacitantes, pelo que motivam frequentemente o estabelecimento de limitações na atividade profissional. Por outro lado, as complicações agudas, apesar de frequentemente ligeiras e passíveis de resolução pelo próprio, podem colocar o trabalhador em grave risco de acidente de trabalho. O exemplo mais óbvio é o da hipoglicemia grave, com sintomas neuroglicopénicos. A farmacoterapia utilizada para controlo da doença pode, por si só, condicionar episódios hipoglicémicos ou outros sintomas que colocam em risco a segurança do trabalhador e, inclusivamente, terceiros. Trabalhadores que exerçam funções em planos desnivelados/trabalho em altura, que manipulem máquinas ou instrumentos de trabalho perigosos ou que conduzam profissionalmente, devem ser cuidadosamente avaliados pelo Médico do Trabalho. Apesar de a maioria não vir a ter limitações laborais, poderá ser necessário adequar o local de trabalho ou condicionar determinadas tarefas de modo a ser possível atingir um bom controlo glicémico, fator determinante na prevenção das complicações da doença. Recomendações para o trabalhador com Diabetes incluem a realização de pausas para avaliação de glicose, alimentação e administração terapêutica, eventual restrição dos turnos noturnos e/ou de tarefas de alta exigência metabólica, sendo que estas recomendações dependem das complicações da doença, farmacoterapia anti-hiperglicémica utilizada e da capacidade de o trabalhador reconhecer hipoglicemias. Conclusão A atualização permanente de conhecimentos sobre os avanços na farmacoterapia de controlo desta doença, nomeadamente dos mecanismos de ação e eventuais efeitos secundários, é essencial no controlo e prevenção dos riscos decorrentes de uma má gestão desta patologia em contexto profissional.

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Bibliographic Details
Main Authors: Matos,S, Carvalho,F, Duarte,A, Marques,F, Miranda,M, Gomes,V, Almeida,M
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Ajeogene Serviços Médicos Lda 2021
Online Access:http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-84532021000200086
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Summary:RESUMO Introdução/Enquadramento A Diabetes mellitus é uma doença crónica, resultante de deficiente secreção e/ou ação periférica da insulina, causando hiperglicemia, com lesão de múltiplos órgãos alvo. A sua incidência mundial tem aumentado nas últimas décadas, estimando-se uma prevalência mundial próxima dos 415 milhões de adultos. Neste contexto, existirá um elevado número de trabalhadores com esta patologia, que serão obrigatoriamente avaliados em exames de aptidão profissional, pelo que é imprescindível que o Médico do Trabalho permaneça atualizado relativamente à clínica e opções farmacológicas disponíveis para deliberação fundamentada quanto à aptidão e eventuais condicionantes, restrições e recomendações a ela associada. Metodologia Trata-se de uma revisão narrativa da evidência disponível na base de dados PubMed, complementada pela legislação portuguesa e orientações de sociedades nacionais e internacionais. Conteúdo/Discussão As complicações da Diabetes podem afetar a capacidade de trabalho e, por este motivo, devem ser alvo de avaliação periódica pelo Médico do Trabalho. Algumas complicações crónicas, como a retinopatia ou a doença neuro-isquémica são relativamente evidentes nas suas manifestações incapacitantes, pelo que motivam frequentemente o estabelecimento de limitações na atividade profissional. Por outro lado, as complicações agudas, apesar de frequentemente ligeiras e passíveis de resolução pelo próprio, podem colocar o trabalhador em grave risco de acidente de trabalho. O exemplo mais óbvio é o da hipoglicemia grave, com sintomas neuroglicopénicos. A farmacoterapia utilizada para controlo da doença pode, por si só, condicionar episódios hipoglicémicos ou outros sintomas que colocam em risco a segurança do trabalhador e, inclusivamente, terceiros. Trabalhadores que exerçam funções em planos desnivelados/trabalho em altura, que manipulem máquinas ou instrumentos de trabalho perigosos ou que conduzam profissionalmente, devem ser cuidadosamente avaliados pelo Médico do Trabalho. Apesar de a maioria não vir a ter limitações laborais, poderá ser necessário adequar o local de trabalho ou condicionar determinadas tarefas de modo a ser possível atingir um bom controlo glicémico, fator determinante na prevenção das complicações da doença. Recomendações para o trabalhador com Diabetes incluem a realização de pausas para avaliação de glicose, alimentação e administração terapêutica, eventual restrição dos turnos noturnos e/ou de tarefas de alta exigência metabólica, sendo que estas recomendações dependem das complicações da doença, farmacoterapia anti-hiperglicémica utilizada e da capacidade de o trabalhador reconhecer hipoglicemias. Conclusão A atualização permanente de conhecimentos sobre os avanços na farmacoterapia de controlo desta doença, nomeadamente dos mecanismos de ação e eventuais efeitos secundários, é essencial no controlo e prevenção dos riscos decorrentes de uma má gestão desta patologia em contexto profissional.