Disputas epistemológicas na associação causal entre Zika vírus e síndrome congênita: uma análise de controvérsia

Resumo Um aumento de más-formações em crianças em 2015 no Brasil é associado ao vírus Zika que circulara meses antes, deixando disputas que ainda possui ecos. Usando elementos de um campo das ciências sociais que se dedica ao mapeamento de controvérsias científicas, este trabalho realizou 15 entrevistas semiestruturadas com pesquisadores e gestores envolvidos na associação causal. Investigou-se como esses atores observam o papel de condicionantes sociais no desfecho da Síndrome Congênita por Vírus Zika (SCZ) e os caminhos trilhados para mitigá-los após a epidemia. Há uma preocupação de todos com variáveis sociais e sua relevância no desfecho da SCZ, com uma decepção generalizada sobre o encaminhamento dessas questões após o pico de casos, mas esses fatores não entraram em uma narrativa mais central sobre a causalidade. Nota-se também disputas epistêmicas sobre esse desfecho. Uns atrelam à responsabilidade ao poder público ou se resignam com o resultado; outros cobram posturas ativas de pesquisadores que participaram de centros do poder, com divergências sobre o posicionamento da ciência. O artigo pontua a necessidade de ciências reflexivas que atentem para sua agência no mundo, bem como para articulações de narrativas interdisciplinares e multicausais para crises de saúde pública no Brasil.

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Bibliographic Details
Main Authors: Oliveira,Monique Batista de, Akerman,Marco
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva 2022
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232022000803171
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Summary:Resumo Um aumento de más-formações em crianças em 2015 no Brasil é associado ao vírus Zika que circulara meses antes, deixando disputas que ainda possui ecos. Usando elementos de um campo das ciências sociais que se dedica ao mapeamento de controvérsias científicas, este trabalho realizou 15 entrevistas semiestruturadas com pesquisadores e gestores envolvidos na associação causal. Investigou-se como esses atores observam o papel de condicionantes sociais no desfecho da Síndrome Congênita por Vírus Zika (SCZ) e os caminhos trilhados para mitigá-los após a epidemia. Há uma preocupação de todos com variáveis sociais e sua relevância no desfecho da SCZ, com uma decepção generalizada sobre o encaminhamento dessas questões após o pico de casos, mas esses fatores não entraram em uma narrativa mais central sobre a causalidade. Nota-se também disputas epistêmicas sobre esse desfecho. Uns atrelam à responsabilidade ao poder público ou se resignam com o resultado; outros cobram posturas ativas de pesquisadores que participaram de centros do poder, com divergências sobre o posicionamento da ciência. O artigo pontua a necessidade de ciências reflexivas que atentem para sua agência no mundo, bem como para articulações de narrativas interdisciplinares e multicausais para crises de saúde pública no Brasil.