Pequenas e grandes saúdes: uma leitura nietzschiana

Resumo Este artigo objetiva problematizar o conceito de saúde, entendendo-o como múltiplo, plural. Para isso, adota o pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche como ferramenta analítica, permitindo-nos chegar a uma tipologia que envolve pequenas e grandes saúdes. Enquanto a primeira é normativa e sustentada por um ideal de cura, a segunda passa a ser compreendida enquanto força expansiva, como um estado a que continuamente se conquista. Se, por um lado, uma saúde apequenada obedece a um script prévio de moralização da vida, uma grande saúde diz respeito à expansão daquilo que vive, que afirma seu caráter criador e não instituído pelo rebanho. A concepção de uma grande saúde vai ao encontro da superação dos modelos imperativos que se fixam nas práticas fundadas na biomedicina, aproximando-se das ações coletivas em saúde. No entanto, se por um lado esse movimento amplia o caráter coparticipativo entre equipe e usuários do sistema de saúde, ele carece, de outro, de maior radicalidade no que tange aos rompimentos com o caráter moral dos processos de saúde-doença. Ao não permitir a recusa de altos e baixos próprios à vida, uma grande saúde compreende como necessária a incorporação da dor e do sofrimento implicados em movimentos de individuação.

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Bibliographic Details
Main Authors: Biato,Emília Carvalho Leitão, Costa,Luciano Bedin da, Monteiro,Silas Borges
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: ABRASCO - Associação Brasileira de Saúde Coletiva 2017
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232017002300965
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Summary:Resumo Este artigo objetiva problematizar o conceito de saúde, entendendo-o como múltiplo, plural. Para isso, adota o pensamento filosófico de Friedrich Nietzsche como ferramenta analítica, permitindo-nos chegar a uma tipologia que envolve pequenas e grandes saúdes. Enquanto a primeira é normativa e sustentada por um ideal de cura, a segunda passa a ser compreendida enquanto força expansiva, como um estado a que continuamente se conquista. Se, por um lado, uma saúde apequenada obedece a um script prévio de moralização da vida, uma grande saúde diz respeito à expansão daquilo que vive, que afirma seu caráter criador e não instituído pelo rebanho. A concepção de uma grande saúde vai ao encontro da superação dos modelos imperativos que se fixam nas práticas fundadas na biomedicina, aproximando-se das ações coletivas em saúde. No entanto, se por um lado esse movimento amplia o caráter coparticipativo entre equipe e usuários do sistema de saúde, ele carece, de outro, de maior radicalidade no que tange aos rompimentos com o caráter moral dos processos de saúde-doença. Ao não permitir a recusa de altos e baixos próprios à vida, uma grande saúde compreende como necessária a incorporação da dor e do sofrimento implicados em movimentos de individuação.