Coreografias de evasão: segregação e sociabilidade entre os jovens do break dance das favelas da Maré
Na Maré, bairro do Rio de Janeiro formado por dezasseis favelas, encontra-se um dos mais fortes núcleos de dançarinos de break dance (dança pertencente à cultura hip hop) da cidade. Num meio onde os confrontos armados entre as diferentes fações do tráfico de droga, agravados pela ação truculenta da polícia, impõem fronteiras que constrangem o convívio e a mobilidade, esses dançarinos têm conseguido romper as dinâmicas da segregação. Várias vezes por semana, mais de quarenta jovens de toda a Maré reúnem-se para treinar break dance em diferentes locais do bairro. Alargam, assim, as suas redes de amizade para fora dos limites territoriais impostos pelo tráfico, que inibem a circulação dos moradores, particularmente os jovens, nas áreas sob o domínio de bandos rivais. A adesão à dança fá-los partilhar elementos simbólicos de interpretação e atuação no seu quotidiano, permitindo-lhes alterar o modo de apropriação do bairro, além de expandir os seus circuitos para outras partes da cidade. Nesse processo, criam identidades positivas que subvertem o rótulo de favelado e contestam os estigmas e dispositivos de confinamento que os querem manter isolados e anónimos nos territórios de pobreza.
Main Author: | |
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Format: | Digital revista |
Language: | Portuguese |
Published: |
Centro em Rede de Investigação em Antropologia - CRIA
2012
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Online Access: | http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612012000200005 |
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Summary: | Na Maré, bairro do Rio de Janeiro formado por dezasseis favelas, encontra-se um dos mais fortes núcleos de dançarinos de break dance (dança pertencente à cultura hip hop) da cidade. Num meio onde os confrontos armados entre as diferentes fações do tráfico de droga, agravados pela ação truculenta da polícia, impõem fronteiras que constrangem o convívio e a mobilidade, esses dançarinos têm conseguido romper as dinâmicas da segregação. Várias vezes por semana, mais de quarenta jovens de toda a Maré reúnem-se para treinar break dance em diferentes locais do bairro. Alargam, assim, as suas redes de amizade para fora dos limites territoriais impostos pelo tráfico, que inibem a circulação dos moradores, particularmente os jovens, nas áreas sob o domínio de bandos rivais. A adesão à dança fá-los partilhar elementos simbólicos de interpretação e atuação no seu quotidiano, permitindo-lhes alterar o modo de apropriação do bairro, além de expandir os seus circuitos para outras partes da cidade. Nesse processo, criam identidades positivas que subvertem o rótulo de favelado e contestam os estigmas e dispositivos de confinamento que os querem manter isolados e anónimos nos territórios de pobreza. |
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