(Ir)racionalidade médica: os paradoxos da clínica

O ponto de partida deste trabalho é a tentativa de examinar a prática e o saber médico nas suas articulações internas, em contraste com as análises críticas da medicina que usualmente partem de um ponto de vista externo, com uma abordagem sociológica ou econômica. A partir deste referencial, constata-se que a suposta cientificidade da medicina não se sustenta ao analizar-se seus referenciais teóricos, em especial no que diz respeito àepidemiologia, disciplina fundamental na constituição dos objetos da prática médica - as doenças - desconhecida pela maioria dos médicos. Mais ainda, categorias fundamentais do raciocínio clínico nunca são definidas, como se fossem objetos naturais, dados, o que faz com que a razão principal da busca por atenção médica, o sofrimento, seja marginalizado dentro do pensamento médico, e que o paciente seja apagado para que surja a doença. Por fim, a partir da constatação do caráter eminentemente individualizado do exercício da medicina, o que por si só a afasta do paradigma das ciências naturais, defende-se a adoção de uma atitude científica que permita ao médico questionar as bases de sua prática e recuperar o papel do sofrimento como eixo principal do pensamento médico.

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Bibliographic Details
Main Author: Camargo Jr.,Kenneth Rochel de
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: PHYSIS - Revista de Saúde Coletiva 1992
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73311992000100008
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Description
Summary:O ponto de partida deste trabalho é a tentativa de examinar a prática e o saber médico nas suas articulações internas, em contraste com as análises críticas da medicina que usualmente partem de um ponto de vista externo, com uma abordagem sociológica ou econômica. A partir deste referencial, constata-se que a suposta cientificidade da medicina não se sustenta ao analizar-se seus referenciais teóricos, em especial no que diz respeito àepidemiologia, disciplina fundamental na constituição dos objetos da prática médica - as doenças - desconhecida pela maioria dos médicos. Mais ainda, categorias fundamentais do raciocínio clínico nunca são definidas, como se fossem objetos naturais, dados, o que faz com que a razão principal da busca por atenção médica, o sofrimento, seja marginalizado dentro do pensamento médico, e que o paciente seja apagado para que surja a doença. Por fim, a partir da constatação do caráter eminentemente individualizado do exercício da medicina, o que por si só a afasta do paradigma das ciências naturais, defende-se a adoção de uma atitude científica que permita ao médico questionar as bases de sua prática e recuperar o papel do sofrimento como eixo principal do pensamento médico.