Perspectivas da cardiomioplastia no tratamento das cardiomiopatias

A utilização de enxertos musculares esqueléticos, estimulados síncronamente ao coração, para substituir ou envolver o miocárdio, tem sido apontada como uma nova alternativa no tratamento das cardiomiopatias terminais. No Instituto do Coração, 5 pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada, com sintomas de insuficiência cardíaca congestiva, refratários à terapêutica medicamentosa, foram submetidos a cardiomioplastia, no período de maio a dezembro de 1988. Em 1 dos casos, a etiologia era chagásica e, nos demais, idiopática. A operação constou do envolvimento dos ventrículos direito e esquerdo pelo músculo grande dorsal esquerdo e do implante do sistema de estimulação muscular. Não houve óbitos, no período pós-operatório imediato e, em 1 dos casos, ocorreu perda da resposta contrátil do enxerto muscular, tendo o paciente falecido por insuficiência miocárdica, 2 meses após a operação. Os outros 4 pacientes foram seguidos por 4 a 9 meses, sendo constatada melhora do quadro clínico e do desempenho físico, associada a menor necessidade de medicamentos, em relação ao pré-operatório. A angiografia radioisotópica demonstrou aumento da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, com estimulação do grande dorsal em 43 ± 3% e a avaliação hemodinâmica documentou elevação do trabalho sistólico daquela câmara, associada à queda da pressão capilar pulmonar, após a cardiomioplastia. Por outro lado, foi tam jém observada diminuição da capacidade vital em 15 ± 4%, não sendo identificada, contudo, qualquer limitação clínica decorrente desse fato. Em conclusão, a cardiomioplastia pode aumentar a contrátil idade das câmaras ventriculares em pacientes com cardiomiopatia dilatada, facilitando o controle do quadro congestivo. Este estudo sugere, ainda, que essa técnica pode ser realizada com baixa mortalidade imediata e que a morbidade do procedimento parece estar restrita à possibilidade de perda do enxerto e às alterações da função pulmonar decorrentes da presença do grande dorsal no interior do tórax.

Saved in:
Bibliographic Details
Main Authors: Moreira,Luiz Felipe P, Stolf,Noedir A. G, Bocchi,Edimar A, Auler Jr,José Otávio C, Pêgo-Fernandes,Paulo M, Moraes,Álvaro V, Meneghetti,José Cláudio, Barreto,Antônio Pereira, Pileggi,Fúlvio, Jatene,Adib D
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular 1989
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-76381989000100003
Tags: Add Tag
No Tags, Be the first to tag this record!
Description
Summary:A utilização de enxertos musculares esqueléticos, estimulados síncronamente ao coração, para substituir ou envolver o miocárdio, tem sido apontada como uma nova alternativa no tratamento das cardiomiopatias terminais. No Instituto do Coração, 5 pacientes portadores de cardiomiopatia dilatada, com sintomas de insuficiência cardíaca congestiva, refratários à terapêutica medicamentosa, foram submetidos a cardiomioplastia, no período de maio a dezembro de 1988. Em 1 dos casos, a etiologia era chagásica e, nos demais, idiopática. A operação constou do envolvimento dos ventrículos direito e esquerdo pelo músculo grande dorsal esquerdo e do implante do sistema de estimulação muscular. Não houve óbitos, no período pós-operatório imediato e, em 1 dos casos, ocorreu perda da resposta contrátil do enxerto muscular, tendo o paciente falecido por insuficiência miocárdica, 2 meses após a operação. Os outros 4 pacientes foram seguidos por 4 a 9 meses, sendo constatada melhora do quadro clínico e do desempenho físico, associada a menor necessidade de medicamentos, em relação ao pré-operatório. A angiografia radioisotópica demonstrou aumento da fração de ejeção do ventrículo esquerdo, com estimulação do grande dorsal em 43 ± 3% e a avaliação hemodinâmica documentou elevação do trabalho sistólico daquela câmara, associada à queda da pressão capilar pulmonar, após a cardiomioplastia. Por outro lado, foi tam jém observada diminuição da capacidade vital em 15 ± 4%, não sendo identificada, contudo, qualquer limitação clínica decorrente desse fato. Em conclusão, a cardiomioplastia pode aumentar a contrátil idade das câmaras ventriculares em pacientes com cardiomiopatia dilatada, facilitando o controle do quadro congestivo. Este estudo sugere, ainda, que essa técnica pode ser realizada com baixa mortalidade imediata e que a morbidade do procedimento parece estar restrita à possibilidade de perda do enxerto e às alterações da função pulmonar decorrentes da presença do grande dorsal no interior do tórax.