Humor e psicose em esquizofrenia: explorando fronteiras diagnósticas com o Inventário de Critérios Operacionais para Doenças Psicóticas (OPCRIT) e o caso John Nash

INTRODUÇÃO: Utilizamos uma simulação diagnóstica no caso John Nash, Prêmio Nobel de Matemática de 1994 e descrito como portador de esquizofrenia, para apresentar o Inventário de Critérios Operacionais para Doenças Psicóticas (OPCRIT) e discutir as frágeis delimitações dos diagnósticos categóricos, bem como o uso de diagnósticos dimensionais em psiquiatria. MÉTODO: Baseados na biografia escrita por Sylvia Nasar e no filme Uma mente brilhante, os autores discutiram a sintomatologia e preencheram o OPCRIT. Devido à ausência inicial de consenso, repetiu-se a simulação mais duas vezes, modificando-se os itens que avaliam a presença de pensamentos acelerados (item 31), a ocorrência de aumento de sociabilidade (item 53) e o balanço entre sintomas psicóticos e de humor (item 52), a fim de verificar as repercussões dessas mudanças no diagnóstico. RESULTADOS: Os diagnósticos obtidos em duas simulações foram esquizofrenia (DSM-IV) e esquizofrenia indiferenciada (CID-10), corroborando o diagnóstico de John Nash em sua biografia. Outra simulação apresentou os diagnósticos de transtorno esquizoafetivo tipo bipolar (DSM-IV) e transtorno esquizoafetivo tipo maníaco (CID-10). Apenas a mudança do critério de proporcionalidade entre sintomas psicóticos e de humor (item 52) alterou o diagnóstico de esquizofrenia para transtorno esquizoafetivo. DISCUSSÃO: As fronteiras que separam os diagnósticos de esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo são muito tênues, o que explica a freqüente dificuldade diagnóstica. CONCLUSÕES: Ressaltamos a importância do estudo detalhado do curso da doença, enfatizando o balanço entre sintomas psicóticos e de humor, para a definição diagnóstica dos transtornos psicóticos conforme as classificações atuais. Por fim, destacamos a importância dos diagnósticos dimensionais e a necessidade de mais estudos para a validação das categorias diagnósticas atuais.

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Bibliographic Details
Main Authors: Martins,Cristiane Damacarena, Gil,Alexei, Abreu,Paulo Silva Belmonte de, Lobato,Maria Inês
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul 2004
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082004000200004
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Description
Summary:INTRODUÇÃO: Utilizamos uma simulação diagnóstica no caso John Nash, Prêmio Nobel de Matemática de 1994 e descrito como portador de esquizofrenia, para apresentar o Inventário de Critérios Operacionais para Doenças Psicóticas (OPCRIT) e discutir as frágeis delimitações dos diagnósticos categóricos, bem como o uso de diagnósticos dimensionais em psiquiatria. MÉTODO: Baseados na biografia escrita por Sylvia Nasar e no filme Uma mente brilhante, os autores discutiram a sintomatologia e preencheram o OPCRIT. Devido à ausência inicial de consenso, repetiu-se a simulação mais duas vezes, modificando-se os itens que avaliam a presença de pensamentos acelerados (item 31), a ocorrência de aumento de sociabilidade (item 53) e o balanço entre sintomas psicóticos e de humor (item 52), a fim de verificar as repercussões dessas mudanças no diagnóstico. RESULTADOS: Os diagnósticos obtidos em duas simulações foram esquizofrenia (DSM-IV) e esquizofrenia indiferenciada (CID-10), corroborando o diagnóstico de John Nash em sua biografia. Outra simulação apresentou os diagnósticos de transtorno esquizoafetivo tipo bipolar (DSM-IV) e transtorno esquizoafetivo tipo maníaco (CID-10). Apenas a mudança do critério de proporcionalidade entre sintomas psicóticos e de humor (item 52) alterou o diagnóstico de esquizofrenia para transtorno esquizoafetivo. DISCUSSÃO: As fronteiras que separam os diagnósticos de esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo são muito tênues, o que explica a freqüente dificuldade diagnóstica. CONCLUSÕES: Ressaltamos a importância do estudo detalhado do curso da doença, enfatizando o balanço entre sintomas psicóticos e de humor, para a definição diagnóstica dos transtornos psicóticos conforme as classificações atuais. Por fim, destacamos a importância dos diagnósticos dimensionais e a necessidade de mais estudos para a validação das categorias diagnósticas atuais.