Migração medial do parafuso cefálico de cavilha cefalo-medular Gamma3: Uma complicação rara e potencialmente fatal
Introdução: as fracturas proximais do fémur são uma causa comum de morbi-mortalidade nos idosos. O tratamento é habitualmente cirúrgico, com utilização de cavilha cefalo-medular tipo PFN ou Gamma nas fracturas com comportamento instável. Uma das complicações mais frequentes de falência das cavilhas cefalomedulares é o cut-out do parafuso cefálico. A migração medial do parafuso cefálico nas cavilhas tipo Gamma é uma complicação excepcionalmente rara (apenas 8 casos descritos na literatura), e que pode, em último caso, cursar com penetração intra-pélvica e lesão de vísceras potencialmente fatal. Será descrito um caso neste trabalho. Material e métodos: descrição de caso clínico e revisão da literatura Caso clínico: doente do sexo feminino, 77 anos, com traumatismo da anca esquerdado qual resultou fractura pertrocantérica AO 31-A2.2. Foi submetida a redução fechada em mesa de tracção e osteossíntese com cavilha cefalo-medular Gamma3 130º, sem intercorrências. Cerca de 1 mês após a intervenção observou-se migração do parafuso cefálico para o acetábulo e perda de redução da fractura. Foi submetida a uma revisão da osteossíntese com extracção da cavilha e re-osteossíntese com placa e parafuso deslizante (DHS) e placa de apoio ao grande trocânter. Aos 6 meses de pós-operatório observou-se cut-out do parafuso cefálico. Foi submetida a extracção de material de osteossíntese e artroplastia total da anca cimentada por via posterior, sem intercorrências. Actualmente a doente apresenta-se sem queixas. Discussão: a migração medial do parafuso cefálico define uma entidade que deve ser claramente distinguida da migração antero-superior relacionada com a redução inadequada (em varo) do colo ou posicionamento do parafuso cefálico numa região mais frágil do colo femoral - cut out. Devemos ter atenção à redução da fractura, fundamental à eficácia da osteossíntese de uma fractura intertrocantérica instáveljá que a própria qualidade do osso dificulta a estabilidade pós-fixação. O caso que relatamos neste artigo é uma complicação muito mais rara. Várias hipóteses foram descritas na literatura como causa para esta complicação, não se sabendo, porém, qual a sua etiologia exacta. No caso descrito neste artigo, todos os passos da técnica cirúrgica foram correctamente cumpridos, o internamento e pós-operatório decorreram sem intercorrências, a redução e osteossíntese foram adequadas, pelo que desconhecemos a causa da migração do parafuso. Conclusão. a osteossíntese com cavilha cefalo-medular é uma opção válida e comum no tratamento das fracturas intertrocantéricas nos idosos. A perda de redução em varo e o cut-out apresentam-se como complicações mais frequentes, e devem ser tidas em conta durante o acto cirúrgico, devendo proceder-se sempre a uma redução adequada e colocação do parafuso cefálico numa posição biomecanicamente favorável. O cut-through encontra-se relatado em cavilhas tipo Gamma, pelo que o cirurgião deve ter sempre uma atitude vigilante no pós-operatório destes doentes.
Main Authors: | , , , |
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Format: | Digital revista |
Language: | Portuguese |
Published: |
Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia
2015
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Online Access: | http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-21222015000200008 |
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