Considerações sobre as transposições dos músculos retos. O deslizamento lateral

RESUMO As operações chamadas "transposições musculares" têm-se demonstrado úteis para a correção de certos tipos de estrabismo, tanto comitantes como incomitantes. A interpretação mecânica do efeito da cirurgia tem, entretanto, sido alvo de discrepâncias, que partem já da interpretação dos fatos fisiológicos relativos aos músculos retos. Os antigos tratados mostravam que uma a dução ocular em direção perpendicular ao plano de ação de um músculo reto provoca um deslizamento deste sobre a esclera, de modo a que ele assume sempre o trajeto mais curto entre as duas inserções. Teorias modernas têm afirmado o inverso, isto é, que os músculos retos atravessam formações semelhantes a polias, situadas na região equatorial do olho, que impedem fortemente os movimentos de translação. Isto garantiria a imutabilidade da ação do músculo, qualquer que seja a posição adotada pelo olho. Alguns trabalhos, que assumem essa linha de pensamento, afirmam que aquelas estruturas impedem o deslizamento lateral dos músculos inclusive nas operações de transposição muscular, como a de Hummelsheim. O autor exibe fotografias de atos cirúrgicos, mostrando que as estruturas são destruídas durante esse tipo de operação, pois a posição dos músculos mostra que há translação, pelo menos a partir de uma região situada atrás do pólo posterior do olho, como, aliás, a própria técnica cirúrgica sugere, pois as estruturas perimusculares são seccionadas até cerca de 15 mm para trás da inserção muscular, portanto bem para trás do equador; qualquer polia existente na região do equador é obrigatoriamente seccionada, liberando o músculo para que assuma um grande círculo ao redor do olho (o caminho mais curto entre o "ponto de mudança de direção" e a nova inserção). Aproveitando o ensejo, o autor exibe "curvas comprimento-força" realizadas durante as operações, mostrando que as operações tipo "Carlson & Jampolsky, para a paralisia de abdução, criam certa limitação passiva de adoção, contrariamente à cirurgia de Knapp para a assim chamada "dupla paralisia de elevadores". Como corolário dessas demonstrações, o autor contesta a maneira como Knapp propôs a reinserção dos músculos horizontais, transpostos para junto à inserção do reto superior. Ele os reinsere em direção próxima à perpendicular à espiral de Tillaux, quando, na verdade, devem ser inseridos paralelamente a ela, sob pena de diminuição do efeito elevador desejado, pois, da sua maneira, as fibras inferiores dos músculos ficam mais tensas do que as superiores, transferindo para baixo a resultante das forças.

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Bibliographic Details
Main Author: Souza-Dias,Carlos R.
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Conselho Brasileiro de Oftalmologia 1996
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27491996000600579
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