Remoção e destino de sementes de Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae) e Bertholletia excelsa Bonpl. (Lecythidaceae) no sudoeste do Estado do Acre, Brasil.

Devido às perdas ocasionadas aos ecossistemas florestais amazônicos, a preocupação com a recuperação/restauração das áreas desmatadas ou sobre pressão de uso exige o máximo de conhecimento a respeito das interações planta-animal, pois o alto grau de interação biótica pode potencializar a diversidade das espécies envolvidas, contribuindo para a rápida restauração do ambiente e estabelecimento de novos indivíduos, bem como sua permanência dentro das comunidades vegetais. Essas interações tornaram-se tão evidentes que cerca de 50 a 90% das espécies arbóreo-arbustivas dependem da fauna para terem seus frutos dispersos, porém o destino que é dado a essas sementes após a dispersão primária ainda é um assunto que necessita ser melhor estudado. Os trabalhos que focam na dispersão de sementes geralmente tratam das síndromes de dispersão sem se preocuparem com o destino dado às sementes. Esse estudo buscou informações sobre remoção e destino das sementes, bem como a caracterização dos possíveis agentes dispersores/predadores, através de armadilhas fotográficas, de duas espécies arbóreas florestais com potencial não-madeireiro e com características muito semelhantes na síndrome de dispersão: Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae) e Bertholletia excelsa Bonpl. (Lecythidaceae). A coleta de dados de C. guianensis foi realizada na Reserva Florestal da Embrapa Acre, município de Rio Branco, AC e a de B. excelsa foi realizada no Seringal Filipinas, na Resex Chico Mendes, Epitaciolândia, AC. Foi realizado um experimento para avaliar o efeito da época de oferta e escassez de frutos de ambas espécies na remoção e no destino de suas sementes. Para C. guianensis, além do efeito da época também foram analisados os efeitos de ambiente (ocasionalmente inundado e terra firme). Para cada época e espécie foi utilizado um total de 400 sementes, sendo que para C. guianensis esse valor foi dividido entre os ambientes (200 sementes/ambiente). Cada uma das espécies teve 20 indivíduos selecionados ao acaso, onde foram instaladas as parcelas com 20 sementes marcadas com linha de nylon e etiquetas de identificação a uma distância de 10 m da base do tronco. Para C. Guianensis o monitoramento das sementes foi feito semanalmente durante o período de 4 semanas e para B. Excelsa, o monitoramento foi diário pelo período de oito dias. Armadilhas fotográficas foram posicionadas em algumas parcelas para capturar imagens dos possíveis dispersores/predadores. Foram atribuídos cinco destinos diferentes para as sementes: sementes predadas; enterradas; sobre as folhas; perdidas (com e sem o fio de nylon); e sementes intactas. Todas as sementes removidas e encontradas a uma distância de até 15 m do centro da parcela tiveram suas distâncias de remoção mensuradas. A remoção de sementes de C. guianensis foi mais intensa e mais rápida na época em que seus frutos estavam escassos. O ambiente foi significativo apenas na época de oferta de frutos, em que a remoção foi maior na terra firme. A distância de remoção das sementes foi relativamente curta e não houve influência da época de frutificação. A predação das sementes foi maior na época de escassez de frutos, com 48% das sementes predadas enquanto na época de oferta, apenas 1,5% das sementes foram predadas. O principal destino das sementes na época de oferta foi a permanência das mesmas intactas nas parcelas, enquanto que na época de escassez o principal destino foi a predação nas parcelas. Considerando os ambientes dentro de época, foi observado maior ação da fauna na terra firme do que no ambiente ocasionalmente inundado, especialmente em relação à predação. Na área do estudo a remoção das sementes de C. guianensis esteve associada à presença de cutiaras (Myoprocta pratti), cutias (Dasyprocta fuliginosa), tatus, pacas (Cuniculus paca), quatis (Nasua nasua) e ratos (Proechimys spp.), não sendo possível observar uma dependência direta dos dispersores/predadores com as sementes de andiroba nos ambientes estudados, pois a maioria das sementes permaneceu intacta nas parcelas. A remoção das sementes de B. excelsa ocorreu muito rápida, menos de oito dias, sendo que na época de oferta de frutos de B. excelsa essa remoção foi mais rápida que na época de escassez. A maioria das sementes removidas teve o fio de nylon cortado, inviabilizando conhecer o destino das mesmas. A distância média de remoção das sementes encontradas foi pequena, menor que 5 m. Houve maior predação das sementes na época de escassez de frutos. O principal destino das sementes removidas e encontradas foi o enterramento, sendo que na época de escassez houve a maior percentagem de sementes enterradas. A armadilha fotográfica registrou visitas de ratos, cutias, cutiaras, macacos e um tatu nas parcelas. A recomendação de práticas de manejo sustentável de B. excelsa deve levar em consideração a interação dessa espécie com a fauna, pois há uma interdependência entre elas, o que não foi observado para C. guianensis.

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Bibliographic Details
Main Author: SILVA, A. C. C. da
Other Authors: Ana Cláudia Costa da Silva, Ufac.
Format: Teses biblioteca
Language:pt_BR
por
Published: 2010-04-01
Subjects:Castanha-do-brasil, Reserva Florestal da Embrapa Acre, Rio Branco (AC), Seringal Filipinas, RESEX Chico Mendes, Epitaciolândia (AC), Acre, Amazônia Ocidental, Castanha-do-pará., Bertholletia Excelsa, Andiroba, Carapa Guianensis, Dispersão, Semente., Seeds,
Online Access:http://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/663039
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