Substituição de culturas. Uma abordagem empírica envolvendo cana-de-açúcar, soja, carne bovina e milho

Com o objetivo de avaliar a variação relativa das áreas cultivadas de soja–cana-deaçúcar, pastagem–cana-de-açúcar, milho–cana-de-açúcar, soja–pastagem e soja–milho, em razão da variação dos respectivos preços relativos (no caso de pastagem, carne), da taxa de juros, da taxa de câmbio e do tempo, ajusta-se um modelo econométrico à variação de área agricultável, na família Cobb-Douglas. Medido pelo R2, o modelo ajustou-se bem aos dados. O exercício empírico é importante no atual contexto brasileiro, quando se conjecturam mudanças drásticas no perfil agrário do País, admitindo-se que a cana-de-açúcar substituirá lavouras que estão na base da alimentação dos consumidores, dada a demanda mundial por biocombustíveis. Coerente com a expectativa geral, a hipótese é de que os cultivos de soja, de milho e de pastagem estivessem sendo substituídos pelo cultivo da cana-de-açúcar, e isso implicaria sinal negativo para a variável tendência. A hipótese só não foi rejeitada para a variável tendência, no caso do milho-cana-deaçúcar, pois nos demais casos ela não tem o suporte dos dados. Na realidade, a soja é que tem substituído as demais lavouras, inclusive a de cana-de-açúcar. Especificamente no período avaliado (1994–2005), os preços internacionais relativos para milho–cana-de-açúcar, soja–cana-de-açúcar, carne–cana-de-açúcar e soja–carne não influenciaram as relações entre as respectivas áreas. A exceção é o caso soja–milho. O câmbio foi importante tanto para a relação milho–cana-deaçúcar, com elasticidade de 0,40%, como para a relação soja–milho, de 0,36%. Os juros, medidos pela taxa Selic, foram importantes no contexto das relações: soja–cana-de-açúcar, com elasticidade de 0,23%; pastagem–cana-de-açúcar, com elasticidade de 0,10% (marginalmente significante); e soja–pastagem, com elasticidade de 0,23%. A variável tendência é estatisticamente significante em todos os casos, exceto na relação pastagem–cana-de-açúcar e na relação soja–milho, nas quais foi omitida. O seu coeficiente mede a taxa instantânea de substituição de uma lavoura por outra. Tem-se o sinal esperado na relação milho–cana-de-açúcar, com taxa instantânea de -6,7%, o que indica que a cultura da cana-de-açúcar substituiu a do milho. E um sinal positivo nos seguintes cultivos: soja–cana-de-açúcar, 7,9%; soja–pastagem, 8,0%, o que indica que o da cana-de-açúcar vem sendo substituído. Reafirmando a conclusão, somente no caso do milho a cana-de-açúcar está substituindo uma dada lavoura. Nos demais casos, os dados não suportam a hipótese de substituição. Pelo contrário, indicam a perda de áreas de cultivo de cana-de-açúcar.

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Bibliographic Details
Main Authors: Souza, Geraldo da Silva e, Alves, Eliseu, Gomes, Eliane Gonçalves, Gazzola, Rosaura, Marra, Renner
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 2015
Online Access:https://seer.sede.embrapa.br/index.php/RPA/article/view/453
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Description
Summary:Com o objetivo de avaliar a variação relativa das áreas cultivadas de soja–cana-deaçúcar, pastagem–cana-de-açúcar, milho–cana-de-açúcar, soja–pastagem e soja–milho, em razão da variação dos respectivos preços relativos (no caso de pastagem, carne), da taxa de juros, da taxa de câmbio e do tempo, ajusta-se um modelo econométrico à variação de área agricultável, na família Cobb-Douglas. Medido pelo R2, o modelo ajustou-se bem aos dados. O exercício empírico é importante no atual contexto brasileiro, quando se conjecturam mudanças drásticas no perfil agrário do País, admitindo-se que a cana-de-açúcar substituirá lavouras que estão na base da alimentação dos consumidores, dada a demanda mundial por biocombustíveis. Coerente com a expectativa geral, a hipótese é de que os cultivos de soja, de milho e de pastagem estivessem sendo substituídos pelo cultivo da cana-de-açúcar, e isso implicaria sinal negativo para a variável tendência. A hipótese só não foi rejeitada para a variável tendência, no caso do milho-cana-deaçúcar, pois nos demais casos ela não tem o suporte dos dados. Na realidade, a soja é que tem substituído as demais lavouras, inclusive a de cana-de-açúcar. Especificamente no período avaliado (1994–2005), os preços internacionais relativos para milho–cana-de-açúcar, soja–cana-de-açúcar, carne–cana-de-açúcar e soja–carne não influenciaram as relações entre as respectivas áreas. A exceção é o caso soja–milho. O câmbio foi importante tanto para a relação milho–cana-deaçúcar, com elasticidade de 0,40%, como para a relação soja–milho, de 0,36%. Os juros, medidos pela taxa Selic, foram importantes no contexto das relações: soja–cana-de-açúcar, com elasticidade de 0,23%; pastagem–cana-de-açúcar, com elasticidade de 0,10% (marginalmente significante); e soja–pastagem, com elasticidade de 0,23%. A variável tendência é estatisticamente significante em todos os casos, exceto na relação pastagem–cana-de-açúcar e na relação soja–milho, nas quais foi omitida. O seu coeficiente mede a taxa instantânea de substituição de uma lavoura por outra. Tem-se o sinal esperado na relação milho–cana-de-açúcar, com taxa instantânea de -6,7%, o que indica que a cultura da cana-de-açúcar substituiu a do milho. E um sinal positivo nos seguintes cultivos: soja–cana-de-açúcar, 7,9%; soja–pastagem, 8,0%, o que indica que o da cana-de-açúcar vem sendo substituído. Reafirmando a conclusão, somente no caso do milho a cana-de-açúcar está substituindo uma dada lavoura. Nos demais casos, os dados não suportam a hipótese de substituição. Pelo contrário, indicam a perda de áreas de cultivo de cana-de-açúcar.