Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso

Resumo Introdução: A paralisia supranuclear progressiva (PSP) é uma doença neurodegenerativa, cuja prevalência é de 2-7 casos/100.000 indivíduos. No entanto, dado o desafio diagnóstico, prevê-se que estes dados estejam subestimados e que muitos doentes não cheguem a ser diagnosticados. Descrição do caso: Mulher de 69 anos, com hipertensão arterial e hipotiroidismo controlados, recorreu em dezembro/2018 a consulta aberta na sua USF por se sentir triste, com choro fácil e com falta de iniciativa associado a episódios de ansiedade. Pela presunção do diagnóstico de depressão iniciou sertralina. Em janeiro/2019, em consulta programada, o seu MF detetou um discurso pouco fluente e lentificação psicomotora, facto que a doente não reconhecia como um problema. Após exclusão de causas identificáveis e reversíveis que justificassem o quadro clínico decidiu-se fazer uma referenciação aos cuidados de saúde hospitalares de neurologia. Em março, em neurologia, foi identificada a presença de disartria e de reflexos osteotendinosos ligeiramente vivos, interpretados em provável contexto de uma doença neuromuscular, que foi posteriormente descartada pela eletromiografia, ressonância magnética cerebral e estudo analítico normais. Em junho, a doente acrescentava dificuldades executivas e de escrita e destacava-se a presença de apraxia e disfunção frontal, pelo que se colocou em hipótese a presença de uma doença neurodegenerativa, identificada como possível afasia progressiva primária por uma avaliação neuropsicológica. No entanto, em janeiro/2020 verificou-se um agravamento dos sintomas prévios, foi descrita a presença de quedas ocasionais não provocadas e identificou-se uma discreta limitação do olhar vertical superior que se associou finalmente ao diagnóstico definitivo de PSP. Atualmente a doente é seguida pelo seu MF no que respeita ao seu tratamento paliativo e apoio psicológico à doente e respetiva família. Comentário: O MF é responsável pela prestação de cuidados continuados longitudinalmente ao doente, assim como pela gestão da doença que se apresenta de forma indiferenciada numa fase precoce da sua história natural, características que colocam o MF numa posição privilegiada para diagnosticar, acompanhar, intervir e referenciar nas situações como a que é apresentada no presente caso clínico.

Saved in:
Bibliographic Details
Main Authors: Leite,Sara, Barbosa,Antonieta, Cardoso,Carla, Santos,Catarina, Milheiro,Helena
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar 2024
Online Access:http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732024000300306
Tags: Add Tag
No Tags, Be the first to tag this record!
id oai:scielo:S2182-51732024000300306
record_format ojs
spelling oai:scielo:S2182-517320240003003062024-10-08Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de casoLeite,SaraBarbosa,AntonietaCardoso,CarlaSantos,CatarinaMilheiro,Helena Doença neurodegenerativa Paralisia supranuclear progressiva Disartria Oftalmoplegia supranuclear Resumo Introdução: A paralisia supranuclear progressiva (PSP) é uma doença neurodegenerativa, cuja prevalência é de 2-7 casos/100.000 indivíduos. No entanto, dado o desafio diagnóstico, prevê-se que estes dados estejam subestimados e que muitos doentes não cheguem a ser diagnosticados. Descrição do caso: Mulher de 69 anos, com hipertensão arterial e hipotiroidismo controlados, recorreu em dezembro/2018 a consulta aberta na sua USF por se sentir triste, com choro fácil e com falta de iniciativa associado a episódios de ansiedade. Pela presunção do diagnóstico de depressão iniciou sertralina. Em janeiro/2019, em consulta programada, o seu MF detetou um discurso pouco fluente e lentificação psicomotora, facto que a doente não reconhecia como um problema. Após exclusão de causas identificáveis e reversíveis que justificassem o quadro clínico decidiu-se fazer uma referenciação aos cuidados de saúde hospitalares de neurologia. Em março, em neurologia, foi identificada a presença de disartria e de reflexos osteotendinosos ligeiramente vivos, interpretados em provável contexto de uma doença neuromuscular, que foi posteriormente descartada pela eletromiografia, ressonância magnética cerebral e estudo analítico normais. Em junho, a doente acrescentava dificuldades executivas e de escrita e destacava-se a presença de apraxia e disfunção frontal, pelo que se colocou em hipótese a presença de uma doença neurodegenerativa, identificada como possível afasia progressiva primária por uma avaliação neuropsicológica. No entanto, em janeiro/2020 verificou-se um agravamento dos sintomas prévios, foi descrita a presença de quedas ocasionais não provocadas e identificou-se uma discreta limitação do olhar vertical superior que se associou finalmente ao diagnóstico definitivo de PSP. Atualmente a doente é seguida pelo seu MF no que respeita ao seu tratamento paliativo e apoio psicológico à doente e respetiva família. Comentário: O MF é responsável pela prestação de cuidados continuados longitudinalmente ao doente, assim como pela gestão da doença que se apresenta de forma indiferenciada numa fase precoce da sua história natural, características que colocam o MF numa posição privilegiada para diagnosticar, acompanhar, intervir e referenciar nas situações como a que é apresentada no presente caso clínico.info:eu-repo/semantics/openAccessAssociação Portuguesa de Medicina Geral e FamiliarRevista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar v.40 n.3 20242024-06-01info:eu-repo/semantics/reporttext/htmlhttp://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732024000300306pt10.32385/rpmgf.v40i3.13314
institution SCIELO
collection OJS
country Portugal
countrycode PT
component Revista
access En linea
databasecode rev-scielo-pt
tag revista
region Europa del Sur
libraryname SciELO
language Portuguese
format Digital
author Leite,Sara
Barbosa,Antonieta
Cardoso,Carla
Santos,Catarina
Milheiro,Helena
spellingShingle Leite,Sara
Barbosa,Antonieta
Cardoso,Carla
Santos,Catarina
Milheiro,Helena
Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso
author_facet Leite,Sara
Barbosa,Antonieta
Cardoso,Carla
Santos,Catarina
Milheiro,Helena
author_sort Leite,Sara
title Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso
title_short Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso
title_full Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso
title_fullStr Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso
title_full_unstemmed Papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso
title_sort papel do médico de família no diagnóstico e acompanhamento da paralisia supranuclear progressiva: um relato de caso
description Resumo Introdução: A paralisia supranuclear progressiva (PSP) é uma doença neurodegenerativa, cuja prevalência é de 2-7 casos/100.000 indivíduos. No entanto, dado o desafio diagnóstico, prevê-se que estes dados estejam subestimados e que muitos doentes não cheguem a ser diagnosticados. Descrição do caso: Mulher de 69 anos, com hipertensão arterial e hipotiroidismo controlados, recorreu em dezembro/2018 a consulta aberta na sua USF por se sentir triste, com choro fácil e com falta de iniciativa associado a episódios de ansiedade. Pela presunção do diagnóstico de depressão iniciou sertralina. Em janeiro/2019, em consulta programada, o seu MF detetou um discurso pouco fluente e lentificação psicomotora, facto que a doente não reconhecia como um problema. Após exclusão de causas identificáveis e reversíveis que justificassem o quadro clínico decidiu-se fazer uma referenciação aos cuidados de saúde hospitalares de neurologia. Em março, em neurologia, foi identificada a presença de disartria e de reflexos osteotendinosos ligeiramente vivos, interpretados em provável contexto de uma doença neuromuscular, que foi posteriormente descartada pela eletromiografia, ressonância magnética cerebral e estudo analítico normais. Em junho, a doente acrescentava dificuldades executivas e de escrita e destacava-se a presença de apraxia e disfunção frontal, pelo que se colocou em hipótese a presença de uma doença neurodegenerativa, identificada como possível afasia progressiva primária por uma avaliação neuropsicológica. No entanto, em janeiro/2020 verificou-se um agravamento dos sintomas prévios, foi descrita a presença de quedas ocasionais não provocadas e identificou-se uma discreta limitação do olhar vertical superior que se associou finalmente ao diagnóstico definitivo de PSP. Atualmente a doente é seguida pelo seu MF no que respeita ao seu tratamento paliativo e apoio psicológico à doente e respetiva família. Comentário: O MF é responsável pela prestação de cuidados continuados longitudinalmente ao doente, assim como pela gestão da doença que se apresenta de forma indiferenciada numa fase precoce da sua história natural, características que colocam o MF numa posição privilegiada para diagnosticar, acompanhar, intervir e referenciar nas situações como a que é apresentada no presente caso clínico.
publisher Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
publishDate 2024
url http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732024000300306
work_keys_str_mv AT leitesara papeldomedicodefamilianodiagnosticoeacompanhamentodaparalisiasupranuclearprogressivaumrelatodecaso
AT barbosaantonieta papeldomedicodefamilianodiagnosticoeacompanhamentodaparalisiasupranuclearprogressivaumrelatodecaso
AT cardosocarla papeldomedicodefamilianodiagnosticoeacompanhamentodaparalisiasupranuclearprogressivaumrelatodecaso
AT santoscatarina papeldomedicodefamilianodiagnosticoeacompanhamentodaparalisiasupranuclearprogressivaumrelatodecaso
AT milheirohelena papeldomedicodefamilianodiagnosticoeacompanhamentodaparalisiasupranuclearprogressivaumrelatodecaso
_version_ 1813453675677351936