A gênese da causalidade física

As noções ou categorias de causalidade e determinismo acompanharam a formação das ciências modernas e, em primeiro lugar, da física. O uso corrente em nossos dias tende freqüente e erroneamente a confundi-las, nas reconsiderações feitas pela própria física. Propomo-nos esclarecer aqui a primeira dessas noções, mais precisamente a de causalidade física, examinando sua elaboração no início da dinâmica, por meio das primeiras operações e conceituações que acompanham a matematização da mecânica, antes dela ser estendida à física em geral. Veremos como, apoiando-se inteiramente em um aspecto filosófico tradicional da idéia de causalidade (aquele de "causa eficiente"), a causalidade física se estabelece em ruptura com o sentido metafísico que lhe era anteriormente associado. Mais do que no Principia de Newton, é na reelaboração por d'Alembert, no Traité de dynamique, das leis do movimento formuladas como princípios e expressas pelo cálculo diferencial, que a idéia de causalidade física é expressamente considerada como indissociável de seu efeito, que é a mudança de movimento. Os respectivos pensamentos de Newton e de d'Alembert sobre as noções de causa e de força estão a esse propósito em oposição, diferindo quanto à natureza propriamente física dessa mudança, considerada por d'Alembert como imanente ao movimento, segundo a causa circunscrita por seu efeito, enquanto ela permanece matemática e metafísica na concepção newtoniana da força externa, como substituto matemático das causas, tal como havia sido proposto antes da mecânica analítica de Lagrange. Foi a concepção física herdada de d'Alembert, que prevaleceria a seguir por meio da mecânica analítica lagrangiana, que permitiu reintegrar física e racionalmente o conceito de força em sua transcrição diferencial euleriana.

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Main Author: Paty,Michel
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Universidade de São Paulo, Departamento de Filosofia 2004
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662004000100002
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spelling oai:scielo:S1678-316620040001000022010-06-21A gênese da causalidade físicaPaty,Michel Causalidade Causalidade física Causa eficiente Tempo Legalidade Galileu Descartes Newton Kant d' Alembert Lagrange Cálculo diferencial e integral História da dinâmica História da mecânica As noções ou categorias de causalidade e determinismo acompanharam a formação das ciências modernas e, em primeiro lugar, da física. O uso corrente em nossos dias tende freqüente e erroneamente a confundi-las, nas reconsiderações feitas pela própria física. Propomo-nos esclarecer aqui a primeira dessas noções, mais precisamente a de causalidade física, examinando sua elaboração no início da dinâmica, por meio das primeiras operações e conceituações que acompanham a matematização da mecânica, antes dela ser estendida à física em geral. Veremos como, apoiando-se inteiramente em um aspecto filosófico tradicional da idéia de causalidade (aquele de "causa eficiente"), a causalidade física se estabelece em ruptura com o sentido metafísico que lhe era anteriormente associado. Mais do que no Principia de Newton, é na reelaboração por d'Alembert, no Traité de dynamique, das leis do movimento formuladas como princípios e expressas pelo cálculo diferencial, que a idéia de causalidade física é expressamente considerada como indissociável de seu efeito, que é a mudança de movimento. Os respectivos pensamentos de Newton e de d'Alembert sobre as noções de causa e de força estão a esse propósito em oposição, diferindo quanto à natureza propriamente física dessa mudança, considerada por d'Alembert como imanente ao movimento, segundo a causa circunscrita por seu efeito, enquanto ela permanece matemática e metafísica na concepção newtoniana da força externa, como substituto matemático das causas, tal como havia sido proposto antes da mecânica analítica de Lagrange. Foi a concepção física herdada de d'Alembert, que prevaleceria a seguir por meio da mecânica analítica lagrangiana, que permitiu reintegrar física e racionalmente o conceito de força em sua transcrição diferencial euleriana.info:eu-repo/semantics/openAccessUniversidade de São Paulo, Departamento de FilosofiaScientiae Studia v.2 n.1 20042004-03-01info:eu-repo/semantics/articletext/htmlhttp://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662004000100002pt10.1590/S1678-31662004000100002
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