Transposição de veia ovárica como um tratamento cirúrgico menos invasivo para a síndrome de nutcracker

Resumo Introdução: O fenómeno de nutcracker refere-se à compressão da veia renal esquerda (VRE), habitualmente entre a aorta e a artéria mesentérica superior. Quando sintomático, designa-se síndrome de nutcracker. Os sintomas/sinais estão relacionados com o desenvolvimento de hipertensão venosa renal e o diagnostico depende da conjugação da clínica e alterações laboratoriais na presença de critérios imagiológicos. Habitualmente a indicação terapêutica depende da severidade dos sintomas. Existem várias opções terapêuticas: transposição/pontagem da VRE para uma implantação mais distal na veia cava inferior, transposição da veia gonadal, auto-transplante renal, e tratamento endovascular. Caso clínico: Doente de 40 anos, sexo feminino, observada em consulta de cirurgia vascular por varizes pélvicas e vulvares recidivadas. Por suspeita de síndrome de congestão pélvica, realizou estudo complementar com venoTAC que revelou fenómeno de nutcracker com dilatação importante da veia ovárica (VO) e varizes pélvicas. O exame sumário de urina revelou hematúria. Foram ponderadas várias opções de tratamento, tendo sido decidido fazer uma transposição da VO para a veia ilíaca comum (VIC). Através de uma pequena incisão paramediana esquerda (com cerca de 5cm) foi realizada uma abordagem retroperitoneal dos vasos. Procedeu-se à identificação e isolamento da VO (sinalizada com fio guia colocado pela veia femoral comum direita no início do procedimento). Localizada posteriormente à VO, isolou-se a VIC. Procedeu-se à secção transversal da VO e anastomose em termino-lateral da VO à VIC. O tratamento foi complementado com esclerose com espuma de varizes vulvares por via endovascular. A doente teve alta no primeiro dia de pós-operatório. Ao 6º mês de pós-operatório mantem-se sem recidiva das varizes e sem hematúria. Discussão: O Síndrome de nutcracker pode implicar uma morbilidade importante, com risco de trombose da VRE e perda da função renal. O melhor tratamento ainda não está definido e a seleção da melhor opção é dificultada pelo reduzido número de casos, ausência de estudos prospetivos randomizados, e pela ausência de follow-up a longo prazo de algumas das opções terapêuticas. A transposição da VRE é o procedimento mais habitual, seguido pelo auto-transplante renal. O nosso serviço tem vasta experiência na transplantação renal e o auto-transplante tem tido bons resultados; no entanto, não deixa de ser uma intervenção complexa, com riscos potenciais não desprezíveis, com uma convalescença prolongada e um impacto estético importante, sobretudo se aferido à idade jovem dos doentes. Corroborado pelo resultado do caso clínico apresentado, os autores consideram que a transposição da VO é uma alternativa terapêutica menos invasiva a ser considerada.

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Bibliographic Details
Main Authors: Antunes,Inês, Pereira,Carlos, Veterano,Carlos, Veiga,Carlos, Mendes,Daniel, Rocha,Henrique, Castro,João, Pinelo,Andreia, Almeida,Rui
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular 2022
Online Access:http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-706X2022000200086
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