Serotonina, matéria cinzenta periaquedutal e transtorno do pânico

Este artigo é uma revisão de evidências experimentais e construtos teóricos que implicam a modulação do comportamento de defesa pela serotonina (5-HT), atuando na matéria cinzenta periaquedutal do mesencéfalo (MCP) no transtorno do pânico. Resultados obtidos com testes de conflito em animais de laboratório indicam que a 5-HT aumenta a ansiedade, enquanto que a estimulação aversiva da MCP aponta para um papel ansiolítico. Para resolver esta contradição, sugeriu-se que os estados emocionais determinados pelos dois paradigmas são diferentes. Testes de conflito gerariam ansiedade antecipatória, enquanto que a estimulação da MCP produziria medo de perigo iminente. Clinicamente, o primeiro estado estaria relacionado com o transtorno de ansiedade generalizada e o segundo, com o transtorno do pânico. Assim sendo, supõe-se que a 5-HT facilita a ansiedade, porém inibe o pânico. Esta hipótese tem sido testada por meio de um modelo animal de ansiedade e pânico, denominado labirinto em T-elevado, e de dois procedimentos experimentais que geram ansiedade, aplicados tanto em voluntários sadios como em pacientes de pânico. Em geral, os resultados obtidos até agora mostram que drogas que aumentam a ação da 5-HT elevam diferentes índices de ansiedade, enquanto reduzem índices de pânico. Portanto, as predições baseadas na hipótese em questão têm se cumprido. As principais implicações clínicas são as de que um déficit de 5-HT na MCP possa participar da fisiopatogenia do transtorno de pânico e que a intensificação da 5-HT na mesma região medeie a ação antipânico dos medicamentos antidepressivos.

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Bibliographic Details
Main Author: Graeff,Frederico G
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Associação Brasileira de Psiquiatria 2003
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462003000600010
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Summary:Este artigo é uma revisão de evidências experimentais e construtos teóricos que implicam a modulação do comportamento de defesa pela serotonina (5-HT), atuando na matéria cinzenta periaquedutal do mesencéfalo (MCP) no transtorno do pânico. Resultados obtidos com testes de conflito em animais de laboratório indicam que a 5-HT aumenta a ansiedade, enquanto que a estimulação aversiva da MCP aponta para um papel ansiolítico. Para resolver esta contradição, sugeriu-se que os estados emocionais determinados pelos dois paradigmas são diferentes. Testes de conflito gerariam ansiedade antecipatória, enquanto que a estimulação da MCP produziria medo de perigo iminente. Clinicamente, o primeiro estado estaria relacionado com o transtorno de ansiedade generalizada e o segundo, com o transtorno do pânico. Assim sendo, supõe-se que a 5-HT facilita a ansiedade, porém inibe o pânico. Esta hipótese tem sido testada por meio de um modelo animal de ansiedade e pânico, denominado labirinto em T-elevado, e de dois procedimentos experimentais que geram ansiedade, aplicados tanto em voluntários sadios como em pacientes de pânico. Em geral, os resultados obtidos até agora mostram que drogas que aumentam a ação da 5-HT elevam diferentes índices de ansiedade, enquanto reduzem índices de pânico. Portanto, as predições baseadas na hipótese em questão têm se cumprido. As principais implicações clínicas são as de que um déficit de 5-HT na MCP possa participar da fisiopatogenia do transtorno de pânico e que a intensificação da 5-HT na mesma região medeie a ação antipânico dos medicamentos antidepressivos.