A clínica psicossocial e a atenção de cuidados religiosos ao sofrimento psíquico no contexto da reforma psiquiátrica brasileira

O processo de desinstitucionalização prioriza a atenção em saúde mental nos serviços comunitários e o trabalho terapêutico em rede social. A partir da demanda do usuário e/ou família, é possível construir, nessa prática complexa, uma rede social de apoio articulada ao processo terapêutico, incluindo cuidados religiosos, e que funcione como sistema de amparo social em situação de sofrimento. O objetivo deste artigo é refletir sobre essa construção e suas implicações para a clínica da atenção psicossocial. Percursos terapêuticos em diferentes países demonstram que existem, em diversos contextos culturais, pacientes que circulam entre os serviços oficiais de saúde e os cuidados religiosos. Essa situação se repete em usuários de uma clínica-escola pública brasileira onde se observa que eles parecem orientar-se por um pensamento sincrético que seria capaz de dar uma certa coerência tanto a múltiplos aspectos do sofrimento quanto à busca de diversos cuidados à saúde mental. A OMS tem adotado, nestas últimas décadas, uma postura de tendência inclusiva relativa aos serviços culturais de saúde. Esse fato reforça que é fundamental a ampliação de pesquisas sobre sistemas terapêuticos (oficial e cultural), como propõe Tobie Nathan. Numa rede de apoio, esses dois sistemas não estão em concorrência, mas em cooperação, e com a intenção de auxiliar, proteger e socorrer o usuário e/ou família que sofre. Essas interações podem estar ligadas à psicoterapia (complexa e dialógica), exigindo, assim, tanto uma atenção preventiva quanto uma certa margem de risco interativo.

Saved in:
Bibliographic Details
Main Author: Vieira Filho,Nilson Gomes
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Conselho Federal de Psicologia 2005
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932005000200006
Tags: Add Tag
No Tags, Be the first to tag this record!
Description
Summary:O processo de desinstitucionalização prioriza a atenção em saúde mental nos serviços comunitários e o trabalho terapêutico em rede social. A partir da demanda do usuário e/ou família, é possível construir, nessa prática complexa, uma rede social de apoio articulada ao processo terapêutico, incluindo cuidados religiosos, e que funcione como sistema de amparo social em situação de sofrimento. O objetivo deste artigo é refletir sobre essa construção e suas implicações para a clínica da atenção psicossocial. Percursos terapêuticos em diferentes países demonstram que existem, em diversos contextos culturais, pacientes que circulam entre os serviços oficiais de saúde e os cuidados religiosos. Essa situação se repete em usuários de uma clínica-escola pública brasileira onde se observa que eles parecem orientar-se por um pensamento sincrético que seria capaz de dar uma certa coerência tanto a múltiplos aspectos do sofrimento quanto à busca de diversos cuidados à saúde mental. A OMS tem adotado, nestas últimas décadas, uma postura de tendência inclusiva relativa aos serviços culturais de saúde. Esse fato reforça que é fundamental a ampliação de pesquisas sobre sistemas terapêuticos (oficial e cultural), como propõe Tobie Nathan. Numa rede de apoio, esses dois sistemas não estão em concorrência, mas em cooperação, e com a intenção de auxiliar, proteger e socorrer o usuário e/ou família que sofre. Essas interações podem estar ligadas à psicoterapia (complexa e dialógica), exigindo, assim, tanto uma atenção preventiva quanto uma certa margem de risco interativo.