Descompartimentar a noção de cuidado?

Resumo Este artigo constata a existência de barreiras disciplinares e sociais em torno do conceito de cuidado (care) e se interroga sobre as reticências que ele suscita na França. Essa forma de distância coletiva em relação ao conceito de care tem a ver com o que Joan Tronto teorizou como "a indiferença dos privilegiados", mas também com as reticências que o feminismo continua suscitando, assim como com a rejeição de uma ética que criticaria a posição universalista em matéria de justiça. As autoras interrogam também, mais amplamente, as dificuldades de um ponto de vista feminista nas ciências sociais - uma vez admitido que o trabalho do cuidado é revelador de desigualdades sociais, de relações de exploração e de dominação - em integrar a dimensão da ética inerente ao trabalho e ao conceito político de cuidado. As autoras mostram que a dificuldade é real: as análises estão situadas em diferentes escalas, das relações interpessoais às relações transnacionais, e se desdobram a partir de métodos e questionamentos pluridisciplinares heterogêneos. Também a articulação das análises do care em diferentes escalas não pode prescindir da ideia de responsabilidade, que deve ser estendida para além das relações interpessoais. Essa concepção não substancial da responsabilidade é discutida a partir de Iris Young e Joan Tronto, para quem se trata de levar a sério as relações que vinculam pessoas/povos distantes.

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Bibliographic Details
Main Authors: Molinier,Pascale, Paperman,Patricia
Format: Digital revista
Language:Portuguese
Published: Universidade de Brasília. Instituto de Ciência Política 2015
Online Access:http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522015000400043
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Summary:Resumo Este artigo constata a existência de barreiras disciplinares e sociais em torno do conceito de cuidado (care) e se interroga sobre as reticências que ele suscita na França. Essa forma de distância coletiva em relação ao conceito de care tem a ver com o que Joan Tronto teorizou como "a indiferença dos privilegiados", mas também com as reticências que o feminismo continua suscitando, assim como com a rejeição de uma ética que criticaria a posição universalista em matéria de justiça. As autoras interrogam também, mais amplamente, as dificuldades de um ponto de vista feminista nas ciências sociais - uma vez admitido que o trabalho do cuidado é revelador de desigualdades sociais, de relações de exploração e de dominação - em integrar a dimensão da ética inerente ao trabalho e ao conceito político de cuidado. As autoras mostram que a dificuldade é real: as análises estão situadas em diferentes escalas, das relações interpessoais às relações transnacionais, e se desdobram a partir de métodos e questionamentos pluridisciplinares heterogêneos. Também a articulação das análises do care em diferentes escalas não pode prescindir da ideia de responsabilidade, que deve ser estendida para além das relações interpessoais. Essa concepção não substancial da responsabilidade é discutida a partir de Iris Young e Joan Tronto, para quem se trata de levar a sério as relações que vinculam pessoas/povos distantes.