A antiga querela entre a filosofia e a poesia, e a nova querela de República X

O último livro da República começa com a euforia dos saldos positivos: “No tocante à pólis – diz Sócrates – por muitas razões entendo que a fundamos da maneira mais reta”. Essa retidão concerne diretamente “ao assunto da poesia”, isto é, à rmeza que se teve ao “não admitir de nenhum modo o que há de imitativo nela”. Por isso, pode surpreender o leitor desprevenido que, depois desse sinal de aquiescência e plena conformidade com o que foi dito sobre a poesia, toda a primeira metade do livro X (595a608b) seja dedicada a desdobrar uma vez mais o mesmo assunto ao qual já se lhe dedicou a maior parte de, ao menos, dois livros inteiros. O foco do livro X tem, não obstante, algo de novidade, porque integra aspectos teóricos não desenvolvidos na primeira conversa sobre a poesia dos livros II e III, isto é: uma ontologia que inclui Formas, as quais são mencionadas pela primeira vez no livro V, e uma psicologia moral capaz de articular aspectos éticos e cognitivos, que é introduzida no livro IV, e que concebe a alma como sede que unica três diferentes princípios de ação em conito. Ora, apesar do “afeto e respeito” que Sócrates diz sentir por Homero (e Platão volta aqui, com insistência, a essa admiração),1 a objeção à poesia que se levanta em República X é mais radical do que a expressa nos livros II e III, quando se censurava, criticava e expulsava os poetas da pólis...

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Bibliographic Details
Main Author: Costa, Ivana
Format: Parte de libro biblioteca
Language:por
Published: NAU Editora 2022
Subjects:ANALISIS FILOSOFICO, Platón, 427-347 a. C., POESIA,
Online Access:https://repositorio.uca.edu.ar/handle/123456789/13948
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Description
Summary:O último livro da República começa com a euforia dos saldos positivos: “No tocante à pólis – diz Sócrates – por muitas razões entendo que a fundamos da maneira mais reta”. Essa retidão concerne diretamente “ao assunto da poesia”, isto é, à rmeza que se teve ao “não admitir de nenhum modo o que há de imitativo nela”. Por isso, pode surpreender o leitor desprevenido que, depois desse sinal de aquiescência e plena conformidade com o que foi dito sobre a poesia, toda a primeira metade do livro X (595a608b) seja dedicada a desdobrar uma vez mais o mesmo assunto ao qual já se lhe dedicou a maior parte de, ao menos, dois livros inteiros. O foco do livro X tem, não obstante, algo de novidade, porque integra aspectos teóricos não desenvolvidos na primeira conversa sobre a poesia dos livros II e III, isto é: uma ontologia que inclui Formas, as quais são mencionadas pela primeira vez no livro V, e uma psicologia moral capaz de articular aspectos éticos e cognitivos, que é introduzida no livro IV, e que concebe a alma como sede que unica três diferentes princípios de ação em conito. Ora, apesar do “afeto e respeito” que Sócrates diz sentir por Homero (e Platão volta aqui, com insistência, a essa admiração),1 a objeção à poesia que se levanta em República X é mais radical do que a expressa nos livros II e III, quando se censurava, criticava e expulsava os poetas da pólis...